É tempo de regresso às aulas e de fazer contas. Há as matrículas, as mensalidades, as propinas, o material e os livros escolares, a alimentação, o alojamento, as actividades extracurriculares. Gastos sem fim que os pais vão pagando. Uns com mais ginástica do que outros. A Pública foi conhecer quatro famílias e as suas despesas.Família Mira 3 filhos: "Ao fim de alguns anos é que uma pessoa percebe quanto custa realmente educar um filho. As despesas da educação de três filhos são um fardo pesado para uma família de classe média lisboeta. Rita é responsável pelo atendimento num serviço público. O marido, José Mira, é topógrafo. Grande parte do orçamento familiar é destinado à educação deles, admite a mãe. O objectivo é dar pelo menos um curso a cada um. Para isso, é preciso definir prioridades. E optar. Muitas vezes. Rita admite que quando decidiu engravidar não fazia planos a longo prazo. "Ao fim de alguns anos é que uma pessoa percebe quanto custa realmente educar um filho.
" A família tem casa própria, herdada, e isso é "uma grande ajuda". Grande parte do orçamento familiar é destinada à educação de Salvador, 20 anos, de Rita, 18, e de Zé Maria, 12. E todos têm de fazer cedências. Decidiram inscrever Zé Maria no Colégio Valsassina - os irmãos sempre frequentaram escolas públicas - porque a mãe tem horários "complicados" e achou que numa escola pública ele não iria ter o acompanhamento necessário. "Os outros têm uma diferença de idades de apenas dois anos, por isso andaram sempre juntos." Rita garante, apesar de tudo, confiar na qualidade do ensino público. Salvador esteve durante todo o ano a estudar para o exame nacional de Matemática A, a que chumbou no ano anterior. Quer candidatar-se a Engenharia Informática, em Lisboa. Não foi tarefa fácil. Precisou de explicações nos últimos dois anos: primeiro a 35 euros à hora, depois a 25. A irmã também andou em explicações a Geometria Descritiva: 160 euros por mês correspondiam a duas horas semanais. Por causa disso, Zé Maria teve de abandonar as aulas de Inglês no instituto Cambridge, que tinha uma mensalidade de 90 euros. "As explicações são uma renda", queixa-se a mãe. "Não podia tê-lo no colégio, no instituto e aos outros nas explicações. Ele estava a ir bem na escola, mas se algum dia precisar tirará um curso intensivo de Inglês." Todos os filhos passaram por um instituto de línguas, mas individualmente. Se o mais velho não conseguir colocação no ensino superior público em Lisboa, é possível que o Zé Maria tenha de ser transferido para uma escola oficial. "Não sei como vai ser, mas tenho esperança de que ele consiga entrar em Lisboa. Estou a equacionar as hipóteses de público ou privado. Espero não ter de pensar numa terceira, que implique ele ir estudar para fora de Lisboa", diz. "Se for no privado, vou ter de arranjar mais 300 euros não sei de onde." Mas a mudança é certa para o filho mais novo quando terminar o 3.º ciclo, porque aí a irmã também já estará na faculdade. "Cheguei a ponderar tirar o Zé Maria do ensino privado quando ele passou para o 7.º ano, mas acabei por tentar aguentá-lo lá até ao final do 9.º", conta. Os gastos com o colégio onde matriculou Zé Maria rondam os 450 euros mensais, alimentação e ténis, a actividade extracurricular que escolheu, incluídos. "A alimentação é uma coisa muito cara nos colégios. Até ele ter entrado, havia a opção de levar um cesto [com o almoço] de casa", lamenta. "Sempre seriam menos 130 ou 140 euros por mês." Rita Mira já está a prever mais despesas do que o habitual para o ano que aí vem. "Nunca tive nenhum filho na faculdade, mas presumo que seja caro", desabafa. "E o mais novo e a Rita têm de comprar livros. Os do mais velho não deram para a irmã por serem de áreas diferentes. Mesmo assim sempre conseguimos alguns das minhas sobrinhas." Ainda as férias não terminaram e já os pais portugueses se queixam do preço dos manuais escolares. À medida que os alunos vão progredindo, o preço dos manuais vai sendo cada vez maior. Se no 1.º ciclo do ensino básico, a antiga escola primária, os pais gastam em média 25 euros, no secundário já é preciso contar com um valor dez vezes superior, dependendo dos cursos.
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