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Anualmente, os eurodeputados podem convidar 100 pessoas para conhecer o Parlamento Europeu. Maria da Graça Carvalho escolheu actuais e ex-dirigentes estudantis; estudantes e professores da área da Energia e jornalistas. A selecção deve-se ao seu passado enquanto ministra da Ciência e do Ensino Superior, mas também às áreas que actualmente acompanha: pertence à Comissão da Indústria, Investigação e da Energia e é suplente na Comissão dos Orçamentos. Antes de ser eleita, a professora catedrática do Instituto Superior Técnico era conselheira principal do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso.


Diz que o investimento em investigação e desenvolvimento (I&D) não é o que tem sido anunciado. Como é que chegou a essa conclusão?
Foi anunciado que Portugal ultrapassou o um por cento em investimento do Produto Interno Bruto (PIB) em I&D. Em 2005 tínhamos investido 0,54 por cento do PIB nessa área. Subitamente, em 2007 passa o objectivo do um por cento. É estranho.
Porquê?
O que se verifica é que o número de empresas que declaram fazer I&D aumentou. Eram 930 em 2005 e 1500 em 2007. O sector que mais investe é o da banca e dos seguros. Acho que o inquérito utilizou uma definição mais lata do que é investigação científica.
O Governo tem sido acusado de artificializar as estatísticas. Acha que foi isso que aconteceu?
Sim, pode ter um bocadinho disso. Parece-me estranho que os sectores financeiro e dos seguros sejam os primeiros a investir quando não têm tradição. É preciso ter cuidado com a forma como se fazem estes inquéritos.
Investe-se menos em ciência?
Investe-se de uma forma diferente, tem aumentado ligeiramente mas com menos transparência, com contratos mistos de ciência e ensino superior com instituições internacionais onde os participantes não são escolhidos de forma transparente.
Refere-se aos contratos com o MIT e o Carnegie Mellon? Portugal está a financiar as universidades norte-americanas?
Portugal sempre mandou estudantes para os EUA. Nunca houve necessidade de contratualizar com as universidades e pagar-lhes quantias tão elevadas. Qual é o benefício? Há outras formas de doutorar sem ter que pagar tanto.
Mas estas iniciativas têm sido elogiadas internacionalmente.
Sim, mas não é preciso pagar 40 milhões ao MIT.
É dinheiro que podia ser investido nas universidades portuguesas?
Sim, há imenso onde investir, por exemplo em infra-estruturas e mais recursos para as instituições.
Enquanto ministra fez contratos-programa com universidades e politécnicos, mas critica os contratos de confiança que o Governo celebrou. Porquê?
Os contratos devem ser sempre transparentes e baseados em regras claras. Não devem ser usados para criar dependência das instituições. Neste momento há menos transparência e é importante para a autonomia universitária que não haja dependência como a que foi criada. Numa sociedade democrática, o financiamento público deve ser transparente.
Estes contratos prevêem formar mais cem mil pessoas.
Isso vem agravar o financiamento por aluno. A média europeia é de 8600 euros/ano. Em 2005, a média portuguesa era de cinco mil e em 2009 não chegava a quatro mil.
Estes contratos vêm repor o que as instituições perderam nos últimos anos?
Até 2009 o investimento caiu 0,7 por cento, com estes contratos o que foi reposto não chega aos níveis de 2005.
Aplicar Bolonha exige mais financiamento?
No Processo de Bolonha foi feita a parte mais simples, a administrativa. É preciso criar condições para que o aluno permaneça mais tempo na escola com mais condições de estudo. São precisas mais infra-estruturas. Bolonha necessita de mais financiamento.
A luta dos estudantes tem sido por mais acção social. Por seu lado, o ministério afirma investir nesta área. Que balanço faz?
O que me tem sido transmitido é que a situação económica dos alunos piorou muito nos últimos anos e que o número de estudantes necessitados de bolsa aumentou bastante. Neste momento há alunos que abandonam por falta de financiamento, o que é uma questão que no meu mandato fiz tudo para que não acontecesse. Um sistema só pode ter propinas se for acompanhado por uma acção social que não deixe ninguém de fora. O aumento não tem sido suficiente.
A jornalista viajou a convite de Maria da Graça Carvalho

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