Dizem que a escola e os pais são parte do problema e que o facto de não lhes ensinarem nada sobre política contribui para que eles voltem costas. Mas as coisas não têm que ser assim. Da esquerda para a direita: João Louro, Gonçalo Poejo e Miguel Nunes são os autores da ideia (Daniel Rocha). Não foi uma, mas quatro vezes que os alunos da antiga escola secundária de Linda-a-Velha, agora rebaptizada com o nome de Professor José Augusto Lucas, mostraram este ano que, afinal, a política é algo que pode mexer com eles.
Por iniciativa de três alunos do 12.º ano, Santana Lopes, Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa e Paulo Portas foram à escola falar sobre as razões do desinteresse dos jovens pela política, o tema que João Louro, Gonçalo Poejo e Miguel Nunes, de 18 anos, se propuseram desenvolver no âmbito da cadeira de Área de Projecto. Das quatro vezes, mesmo quando as sessões decorreram à tarde, período em que a escola habitualmente se encontra meio deserta, o anfiteatro de 100 lugares transbordou para os corredores. E as perguntas não faltaram. Anabela Baptista, a professora que acompanha este projecto, diz que é raro tal acontecer. "Fiquei muito admirada com a mobilização para estas acções, mas isto o que mostra é que eles não são tão desinteressados como se diz", admite, durante uma visita que o PÚBLICO fez à escola, a convite dos mentores do projecto. O que se passou acabou por provar o que eles também já suspeitavam: que a escola é parte do problema. "Só na disciplina de História é que se dão algumas noções, e muito pouco, do que é a política e de como funcionam as instituições. E esta disciplina é só para os alunos de Humanidades", constata João Louro. Miguel Nunes considera que se passa com muitos jovens o que também acontecia com ele: não se interessam porque, em primeiro lugar, desconhecem quase tudo sobre a política e os partidos, a começar pelas diferenças que existem entre eles. A escola não os informa e, na maior parte dos casos, os pais também não, frisa. Uma ajuda inesperada. É uma realidade que lhes passa ao lado, como aliás também sucede a grande parte do mundo adulto. Suze, que é da turma deles, confirma: "Os jovens não entendem nada sobre política". Mas, apesar de peremptória nesta constatação, não deixa de estranhar que assim seja: "Nós somos o futuro do país e o que está a acontecer vai-nos afectar. Diz-nos respeito". A turma está a ter Português. Andam às voltas com José Saramago. A aula é interrompida, já perto do fim, para que outros falem ao PÚBLICO sobre política e sobre os políticos que este ano passaram pela escola. "São figuras públicas e tínhamos delas uma ideia de serem um bocado inatingíveis. Mas afinal estiveram connosco, na nossa escola. Não estávamos à espera que isso acontecesse", diz Catarina. Também por iniciativa dos três organizadores, a turma teve direito a lanche particular com os dirigentes partidários que responderam ao convite. Aconteceu depois dos debates no auditório e muitos deles aproveitaram para pedir conselhos sobre o que fazer depois. O secundário, para eles, está a acabar e o tempo agora é de escolhas: seleccionar os cursos para os quais se tem média, optar entre faculdades. Dizem que Santana Lopes, Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa e Paulo Portas não se furtaram a responder às suas dúvidas e a dar-lhes indicações sobre este seu futuro próximo. No princípio do ano lectivo, um inquérito que realizaram na escola deu conta de que, numa escala de 1 a 10, a média de interesse pela política entre os alunos ficava-se pelos 3,7. Agora vão fazer um novo inquérito para tentar aferir se entretanto houve uma evolução. "Pode ser que deixem a semente na escola", admite a professora que os tem acompanhado. Dos três, só para João Louro a política era à partida um mundo familiar. Tem o bloco central na família: do lado da mãe, são todos PSD, do lado do pai é o PS que ganha. E foi esta a parte que o conquistou. É militante socialista, mas aprendeu algo nestes últimos meses. Dos partidos com assento parlamentar, o PS foi o único que nem sequer respondeu aos convites que lhe foram feitos. "Foi uma desilusão, tinha pensado que seria dos primeiros a responder", confessa João. Outra desilusão, desta vez partilhada pelos três: o silêncio de Manuel Alegre. O candidato presidencial, que se tinham habituado a admirar, também não respondeu a nenhum dos convites que lhe enviaram. Gonçalo Poejo foi o único que ainda não votou. Nas últimas eleições, em 2009, ainda não tinha feito 18 anos. Agora lança um desafio: "O voto "está fora de moda", mas estamos em muito boa altura de mudar e não deixar que os outros escolham por nós o futuro do nosso país". Não terá sido, por acaso, aliás, que contra a maré optaram por designar assim o seu projecto: "Política somos nós".
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