Hoje, assim que os alunos do 4.º e do 6.º anos abandonarem as salas de aula, após as respectivas provas de aferição de Português, o mais provável é que os seus professores tentem perceber junto das crianças se aquelas responderam ou não de forma acertada. Isto porque, apesar de não contarem para a classificação final dos alunos, as provas "são levadas muito a sério pelos docentes e pelas escolas", asseguram vários directores de agrupamento que se preparam para, depois de amanhã, abrir portas à realização das provas de Matemática. Mais de 200 mil alunos fazem hoje prova de Português (Nelson Garrido).
A polémica - sempre exposta nos diferentes órgãos de comunicação social - é tão pontual quanto as provas que este ano cumprem o seu décimo aniversário. Mesmo antes da sua realização, já diversas personalidades, como Nuno Crato, da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), e Paulo Feytor Pinto, da Associação de Professores de Português (APP), as criticam e ao processo, embora com diferentes argumentos. A SPM gostaria que as provas de aferição fossem feitas por uma entidade independente, se tornassem mais exigentes e ganhassem estatuto de exame, para serem levadas a sério por alunos e professores; a APP reclama dos montantes gastos na elaboração destes testes e defende que passem a ser feitos por amostragem, a todas as disciplinas, e igualmente de forma mais rigorosa, para permitir comparação de resultados. Os próprios modelos e enunciados são criticados: por não conterem questões de matemática, como ironicamente avalia Nuno Crato; ou por não valorizarem a oralidade, o que na perspectiva também irónica de Feytor Pinto contribui para que "em Portugal as plateias continuem a adormecer cinco minutos depois do início de qualquer conferência". Aparentemente, no entanto, a discussão não entra nas escolas, pelo menos de forma tão crítica. Arsélio Martins, presidente da Associação de Professores de Matemática, gostaria, neste 10.º aniversário, de "ver bem explicado" pelo Ministério da Educação "como foram ao longo deste período feitas as provas, com que objectivos e a que conclusões conduziram". João Grancho, da Associação Nacional de Professores, também pede essa avaliação global. Mas nenhum considera que as provas sejam desvalorizadas pelos professores ou que o dinheiro que o Estado nelas aplica seja um desperdício.
Diferentes realidades
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